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Pintura Forjada

SESC Nova Friburgo - março / maio de 2023

Partindo da sutileza de uma pintura vertiginosa, David Magila apresenta em Pintura Forjada uma série de trabalhos provenientes de seu diário de imagens. São metáforas visuais que partem de fotografias autorais, para depois serem orquestradas numa combinação de linhas e cores sobre canvas. Imagens que produzem um encantamento que se dá diretamente na retina, mas que quando olhadas atentamente são capazes de despertar estranhamentos e reflexões. Nota-se que os títulos dos trabalhos, bem como o próprio nome da exposição, atuam como uma espécie de guia para aquilo que não necessariamente se faz evidente na superfície da tela. Se num primeiro momento os olhares são fisgados pelo rigor técnico do desenho e da velatura, na sequência eles são atravessados pelos modos de uso da palavra forjada.

 

Neste sentido, forjada é empregada como um adjetivo que acompanha o substantivo pintura, mas pode também ser um verbo: eu forjo, tu forjas, ela/ele forjas, nos forjamos, vos forjais, elas/eles forjam. Uma palavra que quando posta em diálogo com a arte é capaz de suscitar inúmeras questões, tais como: Poderia David Magila ser considerado um forjador? O que significa ser um artista forjador, uma vez que ele não trabalha com a forja do metal? Em consequência, poderia sua arte ser lida como forjada? Por que?

 

Partindo de tais provocações, é possível notar em Pintura Forjada alguns sintomas que corroboram tais questões. Trata-se de uma mostra composta por trabalhos que acontecem “no entre” a abstração e a figuração, o real e a imitação, o cenário teatral e a paisagem natural, a farsa e o confiável, a dissimulação e a verdade. Isso porque neste contexto a forja é algo que se inicia para além da matéria pictórica, ela está também imbuída no panorama político em que os trabalhos foram produzidos. Desse modo pode-se pensá-la enquanto um fenômeno que se dá de fora para dentro do processo artístico e vice-versa.

 

Com pinturas datadas de 2016 a 2020, cabe destacar os seguintes acontecimentos: 2016 - forjar um impeachment; 2018 - forjar uma prisão sem provas; 2019 - forjar um genocida no corpo de um presidente democrático; 2020 - forjar uma gripezinha diante de uma pandemia mundial. Neste sentido, é possível relacionar o ano, o título e a imagem de cada trabalho exposto com as seguintes interpretações: 2016 - Frequentes Conclusões Falsas 23, um rolo compressor abre caminho para destruição; 2018, 2019 e 2020 - Ricocheteios 5, 6, 7, 8, 9 e 16, projéteis são rebatidos sobre a natureza; 2018 - Frequentes Conclusões Falsas 36 e 37, é para ter água, mas não tem; 2019 - Frequentes Conclusões Falsas 40, 44, 45 e 48, aqui tudo parece construção e já é ruína.

 

O que se tem, então, não é apenas a forja da arte, mas a de toda uma conjuntura macropolítica regida por esta palavra que oscila entre ser adjetivo e verbo. Pois, por mais que a poética de David Magila não tangencie tais assuntos de forma explícita e/ou panfletária, fazer arte é um ato político e ele tem plena consciência disso. Lembrando que é por meio da vertigem que David Magila opera, ou melhor, da democracia em vertigem, como já dizia o filme.

Paula Borghi

Fevereiro de 2023, Serra Grande - BA

Intervenções XIII: David Magila
Giancarlo Hannud - 2021

Frequentes Conclusões Falsas
Taisa Palhares - 2019

Tudo é dissimulado
Tiago Santinho - 2019

Entrevista 
Galeria Janaina Torres - 2018

Como vencer o Morro
Mario Gioia - 2017

Meio-fio
Sarah Rogieri - 2016

No quase platô
Mario Gioia - 2016

Tudo pelas Beiradas
Ricardo Resende - 2015

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